
Os deputados da Assembleia da República (AR), membros do Gabinete da Juventude Parlamentar (GJP), mostraram-se sensibilizados e desolados com as precárias condições de vida que enfermam a população do Distrito Municipal de Kanyaka, na Cidade de Maputo, devido a diversos factores dos quais o elevado índice de desemprego nos jovens, a falta de mercado para comercialização dos seus produtos motivado pela avaria, há mais de três meses, da única embarcação que facilitava a ligação entre a urbe e aquele distrito.
Este sentimento foi manifestado pelos deputados membros do GJP durante um encontro de trabalho que mantiveram na quarta e quinta-feira, com a direcção da vereação, jovens associados, líderes comunitários e Conselho Distrital da Juventude de Kanyaka, no âmbito das jornadas parlamentares que visavam aferir o grau de implementação e cumprimento da legislação atinente a juventude, com enfoque para a Política Nacional da Juventude.

De acordo com a Presidente do GJP, Olívia Matavele, “é desolador que perto da Cidade de Maputo, cerca de 32 quilómetros, haja uma população que vive em condições económicas extremas e com sinais visíveis de pobreza”.
A deputada Matavele reagia a informação prestada, na ocasião, por um grupo de alunos da Escola Secundária Inhaca-Sede que fazia uma radiografia da vida dos jovens e da população daquele distrito que mostra que “não obstante a ilha ter uma grande importância turística, mercê da sua beleza natural e enorme diversidade biológica, carrega consigo diversos problemas económicos e sociais provocados pelo elevado número de desemprego, que piorou com o encerramento do hotel Pestana e o elevado número de graduados da 12ª classe sem esperança do futuro”.
“Os problemas que surgem como consequência de desemprego e falta de uma instituição do ensino superior, bem como pela baixa qualidade de turismo, são por exemplo, o ataque directo a reserva, colocando em causa a sua biodiversidade, a notificação do elevado índice de doenças de transmissão sexual, a desistência as escolas e o elevado nível de uniões prematuras, bem como a subida de número de pais incógnitos, o que sobrecarrega o papel das mães”, indica a mensagem lida na ocasião.
O documento acrescenta que ʺobserva-se, por isso, que maior parte de jovens que conseguem ir além nos estudos até terminar a 12ª classe, por falta do que fazer e consumidos pelo ócio, metem-se no consumo de drogas e de bebidas alcoólicas tradicionais, uma vez que as convencionais são onerosasʺ.
“Devido a esses males, as nossas mães tem cortado lenha do mangal para usarem como fonte de energia no confeccionamento dos alimentos e como fonte de rendimento vendendo a lenha na padarias, por outro lado os homens tem violado as áreas de conservação e reserva pesqueira para assegurarem a sua sobrevivência e das suas famílias e para piorar as raparigas começam a vida sexual e casam cedo como alternativa para conseguirem dinheiro e ocultar a realidade da pobreza e os rapazes, principalmente os que já terminaram a 12ª classe usam bebidas caseiras e drogas como anestesia para aliviar a dor de um futuro incerto”, indica o informe.

Segundo a informação, para se colmatar estes e outros constrangimentos económicos e sociais que encarecem a vida e o futuro de muitos jovens de Kanyaka são vistos como soluções a reabertura do hotel Pestana para galvanizar o turismo e reduzir a taxa de desemprego, apoio e acompanhamento dos projectos dos jovens, prioridades na formação, a mobilização para o ingresso no serviço militar obrigatório e maior controle na venda e consumo de bebidas alcoólicas e drogas, bem como a mobilização de financiamento dos projectos juvenis de criação de frangos.
Corroborando com estas inquietações, o Vereador do Distrito Municipal Kanyaka, Alexandre Muianga, disse que um dos maiores sonhos da ilha é a mobilização de parcerias para a criação de uma instituição do ensino superior no distrito ou uma instituição do ensino técnico profissional para garantir que os jovens ilhéus tenham capacidades de saber fazer em diversas áreas do conhecimento.
ʺNão temos nenhuma escola profissionalizante no distrito e nem uma escola do ensino superior o que faz com que terminada a 12ª classe muitos jovens que não tem condições ou familiares na Cidade de Maputo fiquem sem nada a fazer na ilha”, disse Muianga para quem a avaria da embarcação popular agudizou o custo de vida da população, uma vez que as existentes são de privadas e cobram por viagem 1.500 Meticais contra 300 da embarcação popular.
As inquietações da população de Kanyaka foram acompanhadas pelos jovens deputados e prometeram partilha-las com a direcção da AR para que junto dos governos municipal e central se encontre soluções que vão contribuir para tirar a ilha do isolamento a que esta votada e voltar a ser uma atracção turística.
O Distrito Municipal Kanyaka dista a 32 quilómetros da capital moçambicana, Maputo, e uma população estimada em 6.400 habitantes, maioritariamente constituída por jovens, tendo como bandeira económica a pesca e agricultura. Dados indicam que 27 por cento da população é analfabeta e que 21 por cento não sabe ler e nem escrever.
O trabalho dos jovens deputados da AR na Ilha de Kanyaka marcou o término das jornadas parlamentares que o GJP vinha realizando há pouco mais de 15 dias na Província de Tete e na Cidade de Maputo.